Prólogo
Stanford – São Francisco – Estados Unidos
Era tarde da madrugada, seus olhos cinzas se abriram de súbito, não estava com sono, o ocorrido da noite passada ainda lhe vinha a mente.Estava dentro de uma boate procurando seu mais novo fantoche. Não era fácil encontrá-lo em meio aquele vai e vem de pessoas rebolando e dançando totalmente fora do ritmo da música com o álcool passando por suas veias, e provavelmente sob afeito de drogas. As luzes coloridas e a fumaça banhavam as pessoas em cores, enquanto eles dançavam o remix de Girl Gone Wild.Depois de pouco tempo ele enfim encontrou o rapaz, ficou a observar de longe o homem bem apresentável com aquele cabelo loiro. Aaron odiava aquele queixo quadrado masculino que definitivamente não combinava com aquela sobrancelha fina de mulher. Suspirou fundo reunindo ânimo, e andou em sua direção. Faltando alguns passos para chegar ao homem ele o viu quase que derrubando sua bebida; sua sorte estava se sentindo ameaçada.– Está acompanhado? – sussurrou Aaron no ouvido de Liam com aquela voz penetrante capaz de mover montanhas, sabendo que ele estava a sua espera.– Não mais. – respondeu o homem encarando o americano com aqueles olhos verdes intensos. – Estava achando que você talvez não viesse. – o loiro envolveu a mão de Aaron nas suas em um gesto de ternura. Aaron teve vontade de puxar sua mão e deixá-lo ali, plantado, como se fosse uma bananeira, mas se conteve. Tinha ido para aquela boate para conquistar algo muito maior que um sentimento, uma coisa preciosa que o rapaz escondia em algum lugar secreto.– Demorei muito?– Não meu anjo, eu…– O trânsito estava infernal – cortou Aaron. Odiava ser tratado como um namorado ou bichinho de pelúcia.– Você já tinha entrado em uma boate LGBT antes? – perguntou Liam depois de um tempo, ambos olhando os corpos das pessoas em movimento.– Não, mas acho melhor que uma heterossexual – mentiu.– Que bom. – Liam abriu um sorriso, feliz por aquelas palavras.Quando seu caminho, por ironia do destino, se cruzou com o de Aaron, ele pensou que o americano não gostasse dele, que queria apenas sua amizade, mas com o decorrer dos meses Aaron foi se aproximando de um jeito sedutor de mais, mas até então não tinha deixado suas intenções claras. Certo dia em que o americano estava em sua grande mansão comemorando mais uma de suas vitórias no Polo, levado pela emoção ele beijara Aaron e para sua surpresa o mesmo correspondeu o beijo. Dai por diante eles estavam namorando as escondidas, por motivos que ele mesmo não entendia. O americano apenas tinha lhe dito que gostava de sigilo e ele respeitou suas decisões.Aaron pediu um Drink a um dos garçons que passavam por entre as pessoas oferecendo a bebida por cortesia da casa, e tomou um gole. Sentiu o líquido queimando sua garganta e segundos depois aquela adrenalina lhe preencher, como se fosse um poder. Gostava daquela sensação, mas preferia sentir o verdadeiro poder que era irradiado por aquele homem ao seu lado, um poder fora do normal, um verdadeiro pote de ouro.
Comecei a sentir vestígios de chuva adentrando em meus longos cabelos ruivos. Mal havia erguido a cabeça em direção ao céu e mais alguns pingos tocaram a minha face. Maldita sorte. Maldita hora que Aaron Locky cruzara o meu caminho. Já podia sentir um dos meus melhores vestidos começar a ensopar. Imaginei que talvez, se eu atravessasse, do outro lado da rua, pudesse me locomover melhor. Por que raios tive essa ideia? Não sei de onde surgiu aquela "maravilhosa" poça de lama no meio da pista bem na hora que eu ia passar. Obviamente, foi atirada contra mim quando aquele "lindo" carro passou por cima. "Não pode ficar pior!" pensei. "Ah, mas é claro que pode." O destino me respondeu aumentando a chuva, formando raios e relâmpagos. Se a minha mãe estivesse aqui, com certeza quando eu chegasse no final da avenida e entrasse em casa, ela diria: "Eu te avisei! Deveria ter levado um guarda-chuva. Espero que não pegue um belo de um resfriado! Vou mandar preparar algo quente para você." É, mas ela também reclamaria dos vexames que estou passando ultimamente. O resultado de tudo foi a semi falência da empresa e as tentativas falhas de melhorar o nome O'C. Claramente podemos perceber que não deu certo. Entrevistas como a de hoje, mancharam ainda mais imagem dos O'Connell e tudo dá errado. Culpo a minha fraqueza e o maldito Aaron. Dei graças por logo conseguir achar a chave na bagunça que chamo de bolsa e pude adentrar em casa com facilidade. Sem nem tirar a roupa que estava, me joguei na cama e tentei, juro que tentei, pensar em momentos bons, mas os pensamentos negativos me venceram e eu me deixei levar. Pensei ser incapaz, estava sozinha e com a auto estima no fundo do poço. Eu era o ícone que todos queriam ser e agora sou a maior fracassada da história. Não deveria ter a honra de ter esse sobrenome tão cheio de mérito. Lembrei da chuva de gargalhadas que recebi em auditórios de programas de TV. Logo, os mais maldosos comentários de haters me derrubaram. Não consegui pensar em nada que me fizesse sorrir. Pelo contrário. Já estava no fundo do poço e desejei os meus pais ao meu lado, logo, as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Só então, comecei a sentir algo me sugando assim que peguei no sono. © — Emily! Como é bom te ver por aqui. A moça de cabelos azuis com lindos cachos que devem chamar atenção por onde passa, me abraçara ao me ver, como se fôssemos amigas de infância. Suas vestes eram claras assim como sua pele e transmitiam paz, assim como o lugar em que eu estava. Era tudo surreal. — Imagino que esteja se sentindo confusa. Senti a sua falta. Espero que ainda lembre o meu nome! — Ela sorriu. — Oh, desculpe o mal jeito. Mas eu não faço ideia! — Corei. — Sem problemas! Me chamo Atena. Costumávamos sentar juntas no balanço perto dos girassóis. Era tão incrível te ter aqui. Você me contava tantos segredos! Até hoje mantenho em confidencial. — Gostaria tanto de lembrar. — Senti a tristeza me invadir. — Por favor, não se sinta mal! Venha comigo. Há alguém que você gostará de conhecer, acredito que será um encontro de muitas respostas. Dei um breve sorriso em concordância e acompanhei Atena por aquele lugar estranho e ao mesmo tempo tão familiar. Era tão real que mal parecia ser apenas um sonho. Todavia, de fato, não lembro como cheguei aqui. Logo pude ver um campo de girassóis logo a frente, seria aquele comentado anteriormente? Minha pergunta foi respondida quando observei um lindo balanço por perto. Varri os olhos pelo local e lá estava uma pequena mesa com quatro cadeiras aparentemente feita para um chá da tarde. Flores decoravam o espaço. Uma moça com uma bela coroa em sua cabeça e um brilho intenso vindo de suas madeixas ruivas, estava sentada junto de uma moça loira com aparência de fada e uma pequena cartola em cabeça. Ela e Atena se pareciam. — Vocês chegaram! — Elas se levantaram da cadeira e vieram ao nosso encontro. Enquanto eu cumprimentava as minhas novas conhecidas com um abraço, pude perceber Atena e a suposta fada trocavam sorrisos cúmplices. Sentamos as quatro ao redor da mesa e eu pude perceber as magestosas delícias que se encontraram naquele pequeno banquete. — Acredito que não nos conheça ainda! Mas eu sou a Sophie e essa e a Sycreth! Ficamos sabendo com antecedência da sua chegada. Meus tirus me ajudaram a preparar tudo pra você! Desde as comidas, até a cordilheira das flores. Espero que tenha gostado! Sophie havia comentado de um jeito que parecia poder ler os meus pensamentos. Me senti mais confortável e mais a vontade para saborear aquelas delícias. Comecei a degustar de tudo um pouco, assim como as outras. — Imagino o quanto esteja sendo doloroso pra você tudo o que vem acontecendo. Mas estaremos sempre aqui quando precisar. — Sycreth falava sorrindo e Atena continuou: — Agora precisamos ajudar Ype e Drak, por enquanto eles ainda estão meio enrolados preparando tudo, pois além de estarmos comemorando a sua chegada, hoje ainda haverá um baile no reino! — Queremos que se sinta em casa! Te farei companhia. Não se preocupe! — Sophie segurou as minhas mãos. Mal sabiam ela que eu já me sentia melhor por estar aqui apenas por perceber tanta beleza sincera ao meu redor. Então, após nos despedirmos das meninas, Sophie e eu, resolvemos caminhar pelo lindo jardim. — Ficamos sabendo do terrível caos na empresa O'Connell. Lamentamos muito pelo ocorrido. Me perguntei como elas sabiam tanto sobre mim sendo que eu nem sabia quem eram. — Foi tudo culpa de Aaron Locky! E eu não preciso do seu lamento. Fique sabendo que está tudo sob controle. Havia me arrependido de falar assim com quem estava sendo tão gentil comigo. Conseguia sentir a antiga Emily voltando a aflorar. — Imagino que esteja mesmo. Sabe, Emily, também passei por uma situação parecida. Não era o mundo inteiro desabando sobre mim, não perdi meus pais, a empresa que eu sou herdeira não estava falindo e eu nem perdi toda a minha sorte. Mas tive depressão e o meu mundo havia desabado. — Ela respirou fundo, parecia não querer se lembrar de momentos ruins, mas continuou — Foi quando encontrei pessoas maravilhosas que me fizeram voltar a enxergar o mundo de um outro jeito. Gostaria de te lembrar que nada é pra sempre. Você é simplesmente Emily O'Connell! Tanta gente se mataria pra estar no seu lugar ou ser você por alguns míseros dias... — Passado! Você não deveria encher o meu ego com coisas que não condizem com a minha realidade atual. Agora eu só quero reunir minhas forças para encontrar Aaron e recuperar minha sorte. — Interrompi sem nem pensar duas vezes. — Emily, por que você acha que foi chamada ao reino? — Sophie me observava como se tentasse decifrar algo em mim. — Eu não sei. — Respondi com sinceridade. — Me acompanhe até aquele balanço. Seguimos sem falar nada até sentarmos juntas no lindo balanço que soava muito familiar. Após, alguns minutos de silêncio, pudemos ouvir apenas as vozes que não se calavam de alguns “tirus”. Imaginei que Sophie estivesse organizando as suas ideias e logo fui bombardeada por novas sábias palavras. — Fui chamada ao reino pela primeira vez, foi numa época faltava forças e vontade de progredir. — Ela olhou pra mim como soubesse que me identificaria, deu um sorriso de canto e contendo a nostalgia, continuou — O reino foi o meu refúgio, o lugar em que eu podia ser “eu mesma”, soube finalmente vencer a depressão e encarar a realidade com outros olhos. Provavelmente esteja se sentindo bem melhor considerando apenas o simples fato de estar aqui. Nós duas sabíamos que aquilo tudo era um grande choque de verdades. Então, abracei-a. Um abraço diferente, cheio de energias positivas e troca das melhores intenções. Como alguém que conheci a poucos minutos me fazia sentir uma intimidade de séculos? — Você não deve lembrar, mas quando buscava inspiração, sentava bem aqui onde estamos, olhava para as flores, mais precisamente, para os girassóis e logo depois se sentia melhor. Tenho certeza que desta vez não será diferente. Ela ergueu a sua mão direita, pegou um dos mais lindos girassóis que se encontravam ali e colocou em minhas mãos. Sorrimos juntas. E por algum motivo, acreditei realmente que em algum momento da minha vida, eu estivera naquele lugar. — Emily, você precisará ser forte e conseguirá alcançar todos os seus objetivos. E quando precisar se fortalecer, esse girassol te fará encontrar respostas. © Acordei sem entender muita coisa. Já estava tão escuro que imaginei ser tarde da noite. Tentava me lembrar do que tinha acontecido, mas foi em vão. Acredito que qualquer um que ali entrasse, perceberia o tanto de energia positiva localizada apenas nesse quarto. Já conseguia me sentir mais viva. Muito mais O'Connell. E só então, percebi que segurava um lindo girassol e por algum motivo, eu sorri.
